quinta-feira, julho 4, 2024
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    O destaque da Raça Nelore na pecuária brasileira

    A liderança da raça Nelore nos criatórios bovinos do Brasil tropical não foi fruto do acaso ou da sorte. Suas características de resistência ao calor e habilidade para digerir capins grosseiros são compartilhadas com outras raças zebuínas, mas o que realmente distinguiu o Nelore foi sua notável habilidade maternal.

    Algumas décadas atrás, em um contexto de criações extensivas, secas prolongadas, pastagens fibrosas e escassa disponibilidade de medicamentos, a qualidade materna do Nelore desempenhou um papel fundamental na sobrevivência dos bezerros. O nascimento de bezerros ligeiramente menores, porém mais espertos, tornou os partos mais fáceis. Além disso, as vacas Nelore com tetos menores possibilitaram uma amamentação natural, dispensando cuidados especiais. Não podemos deixar de mencionar o instinto protetor dessas vacas, que as tornou formidáveis defensoras de suas crias contra predadores e até mesmo urubus.

    Com todas essas qualidades e aptidões, a raça Nelore naturalmente conquistou a liderança nos criatórios nacionais. No entanto, à medida que os consumidores passaram a ser mais exigentes em relação à qualidade da carne, o Nelore não conseguia competir com as raças europeias.

    Isso marcou o início da fase dos cruzamentos industriais no Brasil, que durou aproximadamente três décadas, envolvendo o cruzamento entre bovinos zebuínos e europeus. Entre as diversas raças europeias utilizadas, a raça Aberdeen Angus se destacou e hoje domina o mercado.

    Atualmente, o Angus é uma presença comum nos cardápios de restaurantes e nos anúncios de açougues, sendo considerado sinônimo de carne gourmet. No entanto, a maioria dos consumidores não percebe que a carne Angus que consomem é o resultado de um cruzamento entre uma vaca Nelore e o sêmen de um touro Angus.

    A verdade é que essa oferta de carne Angus só foi possível graças às qualidades já mencionadas da vaca Nelore, que transmitiu parte dessas características aos seus bezerros mestiços.

    Embora tenha havido um esforço constante para melhorar a raça Nelore, o foco na época estava principalmente nos indicadores de ganho de peso. No entanto, há 20 anos, uma nova tecnologia de melhoramento genético voltada para a qualidade da carne e da carcaça revolucionou a pecuária.

    O avanço na qualidade das imagens da ultrassonografia, a partir de 2003, permitiu a avaliação e medição de características como espessura de gordura do contrafilé, área do olho de lombo e marmoreio em animais vivos. Todas essas características são indicadoras de maciez, suculência, sabor e rendimento de carcaça. A identificação e quantificação dessas características em animais vivos, juntamente com técnicas modernas de reprodução, aceleraram os cruzamentos e a introdução desses atributos no rebanho, resultando em avanços notáveis na melhoria da raça em apenas duas décadas.

    Os bovinos Nelore geneticamente melhorados, dentro desses padrões, apresentam uma aparência que se assemelha muito à de bovinos europeus. Além disso, como benefício adicional, essa seleção genética tem contribuído para um ganho ambiental, com animais prontos para o abate em idades mais precoces. Vale ressaltar que os bovinos emitem metano apenas enquanto estão vivos, e abates antecipados podem contribuir para reduzir a emissão desse gás e melhorar o equilíbrio de carbono na pecuária.

    É importante lembrar que a carne Angus que você consome tem uma participação genética significativa da raça Nelore. Em breve, quando você encontrar “Steak Nelore” no cardápio de restaurantes, isso será um atrativo para os consumidores.

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