quinta-feira, julho 4, 2024
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    Conheça a meliponicultura, técnica de polinização feita por abelhas sem ferrão

    Abelhas sem ferrão elevam cultivo em até 18% sem desmatar uma única folha de árvore;

    A produção de mel no Brasil se apresenta com um mercado promissor e com grande potencial de ganhos, um dos motivos é o manejo e a não necessidade de alto investimento de tempo e cuidado. Pesquisas realizadas nos últimos meses indicam que a meliponicultura, técnica de polinização realizadas por abelhas sem ferrão, podem aumentar em até 30% a produção.

    O volume é alto quando comparamos a outros produtos como o café, por exemplo, onde a marca de lucro gira em torno de 18%, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

    Um dos motivos da conscientização de produtores sobre os benefícios das abelhas para o agronegócio foi debativo pela Embrapa durante o Agrishow, feira de tecnologia e inovação, realizada em Ribeirão Preto (SP).

    “Com as abelhas, a gente consegue aumentar a produção sem a necessidade de expandir a área de plantação. Isso acontece porque nós fazemos um direcionamento das abelhas durante a florada. Influencia na qualidade da produção e na proteção dos biomas nativos”, afirma Guilherme Campanha, pesquisador da instituição.

    As abelhas são responsáveis por cerca de 80% da polinização existente na natureza, isso permite a fecundação de diversas espécies, além da produção de sementes e frutos. Mesmo com toda importância existem poucas plantações com a polinização das abelhas sem ferrão.

    O processo ocasionado pelas abelhas aumenta ainda a qualidade dos alimentos; as frutas ficam mais doces, influenciando no sabor, além de aumentar o tamanho e a quantidade de sementes.

    Abelhas sem ferrão influenciam produtividade de lavouras  — Foto: Érico Andrade/g1

    Abelhas sem ferrão influenciam produtividade de lavouras — Foto: Érico Andrade/g1

    Abelhas em outras culturas

    O Brasil é o país com a maior diversidade de abelhas em todo mundo, segundo o pesquisador Guilherme Campanha.

    “Elas ficam em toda a região tropical e subtropical do globo, mas só no Brasil já temos 244 espécies catalogadas.”

    Em Ribeirão Preto, por exemplo, cresce o uso das abelhas jataí. Pedro Moyses, construtor de criadouros afirma que por serem mais dóceis, são usadas principalmente para a produção de morango.

    “As jataís e as mirins, que são abelhas menores e mais dóceis, vêm sendo bastante solicitadas ultimamente e muito direcionadas para a produção de morango.”

    Exposição de produtores de mel — Foto: Érico Andrade/G1

    Exposição de produtores de mel — Foto: Érico Andrade/G1

    O pesquisador Guilherme Campanha afirma ainda que a polinização das abelhas jataís influencia no sabor, tamanho e na durabilidade dos frutos.

    “A gente tem pesquisas que mostram que o morango bem polinizado pode ganhar até 12 horas a mais de prateleira do que o não-polinizado.”

    A performance das espécies varia em cada plantio. Pedro comenta ainda que as abelhas são utilizadas também nas lavouras de maracujá.

    “As abelhas têm diferentes tamanhos, agilidade, tipo de voo, então cada uma vai bem em uma espécie diferente de planta. O maracujá, por exemplo, recebe várias espécies de abelha na floração, mas quem faz a polinização é a mamangava, por conta do tamanho. Por ser uma abelha grande, ela consegue passar na parte masculina e feminina da planta para fazer a fecundação”, diz.

    As mamangavas são abelhas solitárias de grande porte muito resistentes e importantes para a polinização — Foto: Wilton Felipe/Acervo Pessoal

    As mamangavas são abelhas solitárias de grande porte muito resistentes e importantes para a polinização — Foto: Wilton Felipe/Acervo Pessoal

    Outra cultura que vem aderindo ao uso dos criadouros de abelhas sem ferrão cada vez mais é o café.

     

    Diferença no mel também impacta no agro

    A criação das abelhas sem ferrão, além de colaborar nas lavouras impactam ainda no mercado do mel. Guilherme diz que a procura pelas abelhas é grande, e os motivos são as texturas e gostos característicos no mel.

    O motivo desse acontecimento, segundo Moyses, é a forma de produção das abelhas, diferenciando das outras espécies com ferrão.

    “A principal diferença entre o mel da abelha sem ferrão e da africana é a fermentação. O mel da abelha sem ferrão tem uma concentração de água bem maior, e isso faz com que os micro-organismos que vivem em simbiose com a colônia encontram melhores condições de proliferação, tornando a fermentação melhor. Isso faz com que o sabor do mel delas fique diferente”, diz.

    Pedro explica ainda que a forma de estocar o mel também é fator relevante na obtenção dos sabores.

    “As abelhas sem ferrão estocam o mel em cerumes, que são potes de mel feitos por resinas de plantas, cera da abelha mesmo. Conforme o mel fica ali dentro, ele vai absorvendo características da colônia de cada espécie. Além da variação de sabor decorrente das floradas, tem também a variação decorrente da espécie da abelha,” explica.

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    Forma de produção de mel das abelhas sem ferrão garante mais variedade de sabores e texturas, diz pesquisador da Embrapa — Foto: Érico Andrade/g1

    Forma de produção de mel das abelhas sem ferrão garante mais variedade de sabores e texturas, diz pesquisador da Embrapa — Foto: Érico Andrade/g1

    Uso de indiscriminado de agrotóxicos é ameaça

    Mesmo com a conscientização sobre a importância desses insetos nas lavouras, existe uma grande ameaça pelo uso dos agrotóxicos agrícolas, além do desequilíbrio ambiental causados pelo desmatamento.

    O biólogo Fernando Quenze, pesquisador da área de defensivos agrícolas na Embrapa, afirma que o grande problema está no uso que os próprios produtores fazem dos agrotóxicos.

    “A maioria dos casos de mortalidade de abelhas está associado ao mau uso, ao agricultor que faz misturas desconhecidas no tanque ou usa com dosagem acima do permitido por testes. Essa liberação alta de agrotóxicos é de produtos que já estavam sendo usados, mas quebraram as patentes e novas empresas começaram a produzir suas próprias versões.”

    Uso indiscriminado de agrotóxicos afeta polinizadores e pode prejudicar lavouras vizinhas — Foto: Getty Images

    Uso indiscriminado de agrotóxicos afeta polinizadores e pode prejudicar lavouras vizinhas — Foto: Getty Images

    As abelhas geralmente estão na matas, próximas a área de cultivo, com isso a aplicação dos agrotóxicos podem chegar de forma direta ou indireta. Direta quando a abelha está na flor e acontece a pulverização do produto, e indireta quando é mal feita e o vento acaba levando para a mata, explica Fernando.

    O biólogo afirma que a solução par ao problema pode se resolver através da comunicação entre os criadores de abelhas e os produtores rurais.

    “O produtor avisa quando vai fazer pulverização e o criador faz o manejo correto para proteger as abelhas. Nesse caso, a relação é extremamente positiva e já vem mostrando que dá certo. A mortalidade das abelhas cai e a produtividade do agricultor aumenta,” afirma.

    Use este espaço apenas para a comunicação de erros





    Aceito que meu nome seja creditado em possíveis erratas.

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